Na manhã de 1º de outubro de 2024, no Grand Palais, Paris, a Chanel apresentou uma coleção de Primavera-Verão 2025 impecavelmente executada, recebendo aplausos entusiasmados ao final do desfile. Embora não tenha havido um novo anúncio de estilista, o estúdio de design interno da maison mostrou-se mais do que capaz de criar uma coleção coesa e inovadora, mesmo após a saída inesperada de Virginie Viard em junho.
O desfile, realizado no icônico Palais Royal, marcou o retorno da Chanel ao local após vários anos, enquanto o Grand Palais estava sendo restaurado para as Olimpíadas de Paris. Sem um cenário excessivamente elaborado, o público de 2.200 pessoas assistiu ao espetáculo sentado em simples cadeiras dobráveis brancas, que cercavam uma gigantesca gaiola branca de 20 metros de altura sob o famoso teto de vidro. A gaiola, um símbolo recorrente na história da Chanel, remete à lenda de que Coco Chanel ganhou uma gaiola de passarinho de uma de suas costureiras, inspirando uma campanha publicitária icônica de 1991 com Vanessa Paradis.
No centro da coleção, um elenco de modelos diversificado, com ênfase em diferentes tipos de corpos, desfilou uma série de criações que mesclavam tradição e modernidade. O desfile abriu com os icônicos terninhos da Chanel, agora reinventados com golas Peter Pan e combinações surpreendentes, como saias com aberturas laterais e hot pants. Um destaque foi o bomber de lã bouclé, que funcionou perfeitamente no contexto da coleção, adornado com penas brancas, assim como muitos dos casacos apresentados.
Algumas peças, como os terninhos de aviador e blusões de couro, trouxeram uma referência aos aviadores dos loucos anos 20, época em que Coco Chanel consolidou sua fama mundial. Porém, a força do desfile se destacou nos looks para coquetel, com criações que combinavam boleros e coletes de bouclé com capas de chiffon, além de vestidos-casacos sem mangas adornados com golas de penas de galo.
A Chanel também abraçou a tendência dos looks noturnos semitransparentes, elaborados em tons suaves de sorvete, com peças de lingerie visíveis por baixo. Essa escolha reforçou a ideia de liberdade e fuga da gaiola, um conceito que Coco Chanel certamente teria apreciado.
No entanto, nem todas as peças foram igualmente bem recebidas. Algumas malhas mais grosseiras e vestidos de crochê excessivamente soltos, assim como as plataformas com dedos virados para trás, não impressionaram tanto. Um momento curioso do desfile foi quando Vanessa Paradis e seu grupo de seguidores foram movidos para a segunda fila após os primeiros 20 looks, gerando risadas e surpresa.
Apesar desses pequenos deslizes, o desfile voltou a ganhar força com uma série de trilogias inteligentes – três looks criados a partir do mesmo tecido. Entre eles, uma estampa de cubo de gelo em preto e branco, aplicada em terninhos e vestidos, se destacou como uma das melhores escolhas da coleção.
O grande encerramento contou com a presença da cantora Riley Keough, que, vestida de preto e segurando um microfone, interpretou “When Doves Cry”, de Prince, enquanto circulava pela gaiola antes de ser erguida no ar em um emocionante clímax. O elenco de modelos formou um círculo ao redor dela, encerrando o desfile de forma grandiosa.
Nos últimos dias, surgiram especulações nas redes sociais sobre o possível anúncio de um novo estilista para a Chanel. Entretanto, o presidente de moda e acessórios da marca, Bruno Pavlovsky, foi enigmático ao ser questionado sobre o futuro: “Um dia de cada vez, hoje falamos deste desfile.
O evento foi concluído ao som de Prince, antes que um silêncio tomasse conta do local, seguido de uma enxurrada de aplausos de apoio à maison, uma verdadeira joia do luxo francês. Mesmo sem um diretor criativo oficial, a Chanel mostrou-se capaz de continuar sua trajetória de elegância e inovação, deixando o público e os críticos em êxtase.