Cássia Kis: o papel marcante da atriz no final de “Vale Tudo” e a cena que entrou para a história
A atriz Cássia Kis é um dos grandes nomes da teledramaturgia brasileira — e sua atuação no clássico “Vale Tudo” (1988-1989) permanece entre os momentos mais emblemáticos da TV Globo. A cena em que sua personagem, Leila, é revelada como a assassina de Odete Roitman marcou gerações e se tornou um divisor de águas na ficção nacional.
Com o remake da novela chegando ao fim nesta sexta-feira (17), o público revive o desfecho impactante da versão original, exibida em 6 de janeiro de 1989, e volta a celebrar o talento e a força interpretativa de Cássia Kis, que deu vida a uma das vilãs mais complexas da história da televisão.
O assassinato de Odete Roitman: o auge da atuação de Cássia Kis
O mistério “Quem matou Odete Roitman?” foi uma das maiores perguntas já feitas na TV brasileira. Por meses, o país inteiro especulou quem seria o responsável pela morte da temida empresária vivida por Beatriz Segall.
No capítulo final, a resposta chocou o público: Leila, personagem de Cássia Kis, matou Odete por engano. A revelação surpreendeu e emocionou os espectadores, consolidando a atriz como um dos grandes talentos dramáticos de sua geração.
Na trama, Leila confessa o crime ao personagem Bartolomeu e foge do país ao lado de Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e Bruno (Danton Mello). Dentro do avião, Marco Aurélio faz o icônico gesto de “dar uma banana para o Brasil”, encerrando a novela com uma crítica simbólica à impunidade e à corrupção — e eternizando a participação de Cássia Kis na história da teledramaturgia.
A fuga e o gesto que virou símbolo nacional
O desfecho de Leila (Cássia Kis) em “Vale Tudo” foi ousado e provocador. Fugindo do país ao lado de Marco Aurélio, ela escapa de qualquer punição, o que deixou parte do público indignada — e outra parte fascinada pela coragem da narrativa.
A cena do avião, em que Marco Aurélio debocha do Brasil, virou um dos momentos mais lembrados da TV. Para muitos críticos, o gesto sintetizou o espírito da época: um país dividido entre o desejo de justiça e a percepção de que os poderosos sempre escapam impunes.
A presença de Cássia Kis nessa sequência final reforçou seu talento em interpretar personagens intensas, contraditórias e emocionalmente densas.
Casamentos, reencontros e finais inesperados
Além da revelação do crime de Cássia Kis, o último capítulo de “Vale Tudo” também trouxe diversos desfechos marcantes para os demais personagens.
Afonso (Cássio Gabus Mendes) reencontra Solange (Lídia Brondi) e descobre ser pai de Marcinha, filha que acreditava ser de outro homem. O casal, querido pelo público, finalmente se casa, encerrando o ciclo com emoção.
Outros casamentos também marcaram o episódio:
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Poliana (Pedro Paulo Rangel) se une a Íris (Cristiana Galvão);
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Heleninha (Renata Sorrah) se casa com William (Dennis Carvalho), mostrando sua recuperação após um período de alcoolismo;
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E, de forma surpreendente, Maria de Fátima (Glória Pires) termina com um casamento arranjado com um príncipe italiano — um desfecho que sugere até mesmo um trisal com César (Carlos Alberto Riccelli).
Essas tramas paralelas ajudaram a tornar o último capítulo uma verdadeira celebração da diversidade de destinos e comportamentos humanos.
Do jogo do bicho à ascensão social
Outro destaque do fim da novela foi a transformação de Lucimar (Maria Gladys). A ex-faxineira vence no jogo do bicho ao apostar no número da sepultura de Odete Roitman, enriquecendo e retornando da Argentina completamente mudada.
Seu novo visual e comportamento arrogante — quase uma paródia de Odete — simbolizam a ironia da novela sobre o poder, o dinheiro e a hipocrisia social.
A crítica televisiva da época considerou essa virada uma das mais criativas de Vale Tudo, reforçando a ideia central da obra: no Brasil, tudo parece valer, inclusive a ascensão por meios duvidosos.
Ivan, Raquel e o encerramento simbólico
Enquanto alguns personagens escaparam de punições, Ivan (Antônio Fagundes) teve um desfecho mais realista. Condenado a dois anos de prisão por suborno, ele reconhece suas falhas e reflete sobre a integridade em uma sociedade corrupta.
Após cumprir um ano de pena, Ivan é indicado por Afonso (Cássio Gabus Mendes) à vice-presidência da TCA e escreve o livro “Vale Tudo”, uma metáfora sobre redenção e aprendizado.
O casal Ivan e Raquel (Regina Duarte) protagoniza a cena final da novela, caminhando pela praia — um símbolo de esperança e recomeço. O momento encerra com sutileza uma trama que abordou, com coragem, as contradições da moral brasileira.
Cássia Kis: intensidade e legado na teledramaturgia
A participação de Cássia Kis em “Vale Tudo” consolidou definitivamente sua posição como uma das atrizes mais respeitadas do país. Sua interpretação de Leila foi elogiada pela crítica por equilibrar frieza, emoção e complexidade psicológica.
Mesmo décadas depois, o público ainda se recorda do olhar tenso, da confissão inesperada e da fuga dramática que encerraram sua trajetória na novela.
Desde então, Cássia Kis construiu uma carreira repleta de personagens memoráveis em produções como “Porto dos Milagres”, “O Rei do Gado”, “Pantanal” e “Amor de Mãe”. Em cada papel, ela demonstra domínio técnico e profundidade emocional, características que a tornaram um ícone da TV brasileira.
O remake de 2025 e o impacto do retorno de Vale Tudo
Com o remake de “Vale Tudo” em exibição, o público revive não apenas a trama, mas também a memória afetiva ligada à versão original. A novela volta a despertar debates sobre ética, ambição e caráter — temas que continuam atuais mais de três décadas depois.
Mesmo sem participar do novo elenco, o nome Cássia Kis é constantemente lembrado nas redes sociais, em comparações entre o original e o remake. Sua interpretação definitiva de Leila é considerada insuperável por muitos fãs e críticos, reafirmando o poder do talento e da autenticidade artística.
Por que Cássia Kis ainda é referência na TV brasileira
O sucesso de Cássia Kis transcende “Vale Tudo”. A atriz é reconhecida por sua entrega total aos papéis e pela capacidade de dar profundidade a personagens humanas, contraditórias e realistas.
Em uma era de novelas que buscam cada vez mais representatividade e crítica social, a atuação de Cássia se mantém como um modelo de excelência interpretativa.
Sua trajetória também reflete o amadurecimento da teledramaturgia brasileira, que aprendeu a valorizar o anti-heroísmo e a complexidade moral. “Vale Tudo” foi pioneira nesse sentido — e Cássia Kis foi um dos pilares desse movimento.
“Vale Tudo” e a atualidade do seu discurso
Mais de 35 anos após sua estreia, “Vale Tudo” segue atual. Questões como corrupção, desigualdade e ética continuam no centro das discussões públicas, e a figura de Leila (Cássia Kis) permanece como um espelho das ambiguidades humanas.
O sucesso do remake mostra que o público ainda se reconhece nessas histórias, e que o impacto da novela vai muito além da nostalgia.
Ao revisitar o papel de Cássia Kis, o público também revisita um momento em que a teledramaturgia ousava questionar o próprio país — e fazia isso com arte, emoção e coragem.







































