A escala 6×1 e o impacto na vida das mulheres: uma análise da PEC sobre a redução da jornada de trabalho
A jornada de trabalho 6×1, que exige seis dias consecutivos de trabalho para apenas um dia de folga, impacta milhões de trabalhadores brasileiros, especialmente mulheres. Este modelo, regulamentado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é a realidade de cerca de 40 milhões de brasileiros que atuam em setores como comércio, saúde e serviços gerais. No entanto, sua carga excessiva tem gerado debates sobre sua viabilidade e efeitos na saúde e bem-estar, particularmente das mulheres, que ainda acumulam funções não remuneradas em casa.
Recentemente, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), apresentada pela deputada federal Erika Hilton, trouxe à tona a possibilidade de redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais. Essa mudança promete uma reorganização na rotina de trabalho, com potenciais benefícios para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
A proposta da PEC e o modelo de trabalho 4×3
A PEC propõe a redução da carga horária semanal sem diminuição salarial, permitindo que os brasileiros trabalhem quatro dias e desfrutem de três dias de folga. Essa ideia segue o exemplo de países como Reino Unido, Canadá e Bélgica, que já testaram a viabilidade desse formato. Contudo, especialistas apontam que, no caso do Brasil, uma transição intermediária, com cinco dias de trabalho e dois de folga, pode ser mais adequada.
No cenário global, experiências como a da França, que reduziu sua jornada para 35 horas em 1998, mostram resultados promissores. Com a adoção do modelo 5×2, o país observou aumento na produtividade e criação de 300 mil novos empregos. A França também implementou políticas de moderação salarial para suavizar o impacto econômico.
Os desafios da escala 6×1 para as mulheres brasileiras
Enquanto as discussões sobre a redução da jornada de trabalho seguem no Congresso, a realidade da escala 6×1 continua a afetar diretamente as mulheres. De acordo com o IBGE, as mulheres brasileiras dedicam, em média, 21 horas semanais ao trabalho doméstico não remunerado, enquanto os homens investem apenas 11 horas. Isso significa que, além das 44 horas de trabalho formal, muitas mulheres enfrentam uma “segunda jornada” em casa.
O tempo exaustivo dedicado ao trabalho formal e às responsabilidades domésticas deixa pouco ou nenhum espaço para lazer, descanso ou autocuidado. Atividades como ir ao médico, praticar exercícios, ler ou simplesmente socializar tornam-se inacessíveis para muitas mulheres. Esse cenário perpetua uma desigualdade de gênero que compromete não apenas o bem-estar físico, mas também o emocional dessas trabalhadoras.
A sobrecarga feminina e a urgência da mudança
A escala 6×1 reforça um ciclo de exaustão física e mental para as mulheres, especialmente para aquelas que também exercem a maternidade ou cuidam de familiares. Essa sobrecarga resulta em sérios problemas de saúde, além de limitar a participação ativa dessas mulheres em atividades sociais e culturais.
A proposta de redução da jornada de trabalho tem o potencial de aliviar parte desse peso, permitindo às mulheres uma rotina mais equilibrada. No entanto, para que a mudança seja efetiva, é necessário que a sociedade como um todo repense a divisão de tarefas domésticas e as responsabilidades de cuidado.
Impactos econômicos e sociais da redução da jornada
A implementação de uma jornada reduzida traz desafios, incluindo o impacto no custo das empresas e na economia em geral. A PEC enfrenta resistência de alguns setores empresariais, que temem aumento de custos e repasse ao consumidor. No entanto, estudos e experiências internacionais indicam que a produtividade pode aumentar, compensando os custos iniciais da mudança.
Além disso, o modelo proposto pode criar mais oportunidades de emprego. Com menos horas por funcionário, empresas podem contratar novos trabalhadores para suprir as necessidades de operação. Essa dinâmica pode impulsionar a economia e reduzir o desemprego, beneficiando tanto empregadores quanto trabalhadores.
Reflexões finais: um futuro mais equilibrado para as mulheres
A jornada 6×1 simboliza uma realidade de desigualdade para as mulheres brasileiras, que enfrentam jornadas múltiplas e exaustivas. A redução da carga horária semanal pode representar um passo significativo rumo a um equilíbrio maior entre trabalho e vida pessoal.
A aprovação da PEC não apenas trará benefícios imediatos à qualidade de vida das trabalhadoras, mas também abrirá caminho para uma transformação cultural. É fundamental que o debate público sobre a proposta inclua a perspectiva de gênero, reconhecendo as necessidades específicas das mulheres e promovendo uma divisão mais equitativa das responsabilidades.
Que a luta pela redução da jornada de trabalho seja também uma luta pela valorização da vida, do descanso e da igualdade.