Véronique Nichanian deixa a Hermès após 37 anos e encerra uma era de elegância na moda masculina
Durante quase quatro décadas, o nome Véronique Nichanian esteve intrinsecamente ligado à Hermès, uma das maisons mais prestigiadas do mundo. Após 37 anos à frente da linha masculina, a diretora criativa anunciou sua saída, marcando o fim de um dos períodos mais longos e consistentes da história da moda contemporânea. Sua última coleção será apresentada em janeiro de 2026, encerrando um capítulo de inovação silenciosa, precisão artesanal e elegância atemporal.
O legado de Véronique Nichanian Hermès
Desde 1987, Véronique Nichanian definiu o que significa vestir o homem Hermès: sofisticação discreta, atenção minuciosa aos detalhes e uma harmonia entre tradição e modernidade. Seu trabalho não foi sobre rupturas ou reinvenções radicais — mas sobre uma continuidade refinada, capaz de transformar o ordinário em extraordinário.
Enquanto o mercado global de moda masculina passou por revoluções — do streetwear às colaborações com grifes esportivas —, Nichanian manteve a Hermès fiel à sua essência. Seu olhar privilegiou o conforto, a textura dos tecidos, o poder das cores e a versatilidade das peças.
Com mais de três décadas no comando, ela se tornou a diretora criativa mais longeva de uma marca de luxo internacional (à exceção dos fundadores de suas próprias casas). Seu trabalho é frequentemente descrito como a tradução perfeita do DNA Hermès para o universo masculino: um equilíbrio entre tradição artesanal e inovação técnica.
A entrada na Hermès e o início de uma parceria lendária
A trajetória de Véronique Nichanian na Hermès começou em 1987, quando recebeu uma ligação de Jean-Louis Dumas, então presidente da maison e herdeiro da família fundadora. Na época, ela trabalhava há 12 anos com Nino Cerruti, na Itália, onde desenvolveu seu amor pela alfaiataria e pelos tecidos.
Inicialmente, recusou o convite. Mas um ano depois, após um encontro com Dumas, aceitou assumir a direção criativa da linha masculina — com uma condição essencial: liberdade total de criação.
Essa autonomia foi a base de uma relação duradoura. A confiança entre a estilista e a casa permitiu que ela desenvolvesse um trabalho autoral, no qual cada detalhe, costura e textura refletiam o espírito Hermès. Essa liberdade criativa foi um dos pilares que sustentaram o sucesso da marca no segmento masculino.

O método Hermès de Nichanian: a elegância da continuidade
Em um mercado dominado por ciclos de tendências e coleções que se reinventam a cada estação, Véronique Nichanian Hermès seguiu uma rota distinta. Ela acreditava que a moda não precisava de rupturas para evoluir. Seu estilo é uma soma de gestos sutis — pequenas mudanças que, ao longo do tempo, constroem uma estética sólida e reconhecível.
Sob sua direção, as roupas masculinas da Hermès tornaram-se sinônimo de excelência artesanal e discrição elegante. Cada coleção unia design preciso, inovação têxtil e uso expressivo das cores. Nichanian via a moda como um diálogo entre o corpo, o toque e a matéria-prima.
Sua sensibilidade cromática é uma das marcas de sua carreira. Em vez de se limitar aos tons neutros tradicionais da moda masculina, explorou uma paleta rica e emotiva — tons de terra, verdes, ocres e azuis luminosos, sempre aplicados com equilíbrio e sofisticação. Para ela, as cores têm poesia e emoção, e são uma forma de expressão pessoal tão poderosa quanto o corte de uma peça.
O novo homem Hermès
A visão de Véronique Nichanian sobre o homem contemporâneo foi determinante para redefinir o papel da moda masculina dentro da Hermès. Em suas coleções, o masculino é plural, confortável e livre.
Ela acreditava que não existe um “homem Hermès” único, mas sim muitos — cada um interpretando as peças à sua maneira. Essa filosofia inclusiva se refletiu em desfiles nos quais a alfaiataria convivia com tecidos tecnológicos e cortes esportivos. A formalidade clássica deu espaço a uma elegância funcional, onde cada peça se sustentava por si mesma.
A diretora criativa sempre defendeu que as roupas deveriam ser objetos de desejo e utilidade — não apenas um look completo, mas criações que dialogassem com diferentes estilos, idades e contextos.
Nos últimos anos, ela também observou uma transformação significativa no comportamento do consumidor masculino. O homem moderno tornou-se mais aberto a experimentar cores, texturas e combinações ousadas. Segundo Nichanian, essa mudança é reflexo de uma nova masculinidade, mais livre e menos presa a estereótipos.
O equilíbrio entre tradição e tecnologia
Outro aspecto marcante da era Véronique Nichanian Hermès foi sua capacidade de unir tradição artesanal e inovação tecnológica.
A Hermès sempre foi uma casa profundamente enraizada no trabalho manual — especialmente no couro, nas costuras e acabamentos. Nichanian soube preservar esse DNA, ao mesmo tempo em que incorporou materiais de alta performance, como tecidos à prova d’água, superfícies leves e novas misturas de fibras naturais e sintéticas.
Essa abordagem conciliou o passado e o futuro, mantendo a Hermès como referência de luxo duradouro e contemporâneo. Para ela, a tecnologia não substitui o artesanato, mas o potencializa — é um instrumento para criar conforto, leveza e longevidade nas peças.

Uma líder de orquestra dentro da maison
Como diretora criativa, Nichanian atuava não apenas na criação das roupas, mas na coordenação de todo o universo masculino da Hermès — dos acessórios e calçados aos lenços e bolsas.
Ela se via como uma maestrina à frente de uma orquestra criativa: cada ateliê, cada designer tinha sua personalidade, mas todos eram conduzidos na mesma direção. Essa coerência garantiu que a identidade da Hermès permanecesse intacta, mesmo diante das mudanças no cenário global da moda.
Sob sua gestão, a marca manteve um posicionamento raro: não se rendeu a modismos efêmeros nem à pressão por crescimento acelerado. Em vez disso, priorizou a consistência, o valor do tempo e o respeito ao savoir-faire.
O adeus de Véronique Nichanian à Hermès
Em entrevista ao jornal francês Le Figaro, Véronique Nichanian revelou que sua decisão de se aposentar vinha sendo amadurecida há pelo menos dois anos, em diálogo com Axel e Pierre-Alexis Dumas.
Segundo ela, “chegou a hora de passar o bastão”. Aos 73 anos, a estilista quer dedicar mais tempo a outras atividades pessoais, após quase quatro décadas de dedicação ininterrupta à maison.
A última coleção masculina assinada por Nichanian será apresentada em janeiro de 2026, durante a Semana de Moda de Paris. O desfile promete ser uma celebração de sua trajetória — um tributo à elegância, à precisão e à poesia silenciosa que sempre definiram seu trabalho.
O futuro da Hermès após Véronique Nichanian
Com a saída de Véronique Nichanian, a Hermès enfrenta o desafio de escolher um sucessor à altura de seu legado. O novo diretor criativo terá a missão de manter o equilíbrio entre tradição e modernidade que caracteriza a maison, ao mesmo tempo em que precisará dialogar com um público cada vez mais digital, jovem e conectado.
O nome de seu substituto ainda não foi anunciado, mas a expectativa é alta. O próximo capítulo da Hermès masculina será, sem dúvida, um dos mais observados do setor de luxo nos próximos anos.
O impacto de um estilo inconfundível
Mais do que roupas, Véronique Nichanian Hermès construiu um universo estético e emocional. Suas criações falam de toque, textura e sensações — uma moda feita para ser sentida.
Ao longo de quase quatro décadas, ela ensinou que a elegância não está no excesso, mas na precisão; não no grito, mas no silêncio dos detalhes. Sua saída da Hermès não é apenas o fim de uma era — é o início de um legado que continuará inspirando gerações de estilistas e amantes do design.







































