Em sua mais recente aposta cinematográfica, Nicole Kidman mais uma vez se entrega a um papel ousado e desafiador. No thriller psicológico Babygirl, dirigido por Halina Reijn, a atriz australiana faz uma performance de destaque, explorando temas de desejo, poder e autossabotagem. Com estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 9 de janeiro, Babygirl já é considerado um dos filmes mais aguardados de 2025 e promete agitar discussões sobre sexualidade, relações de poder e os complexos jogos emocionais no ambiente de trabalho.
Kidman, que já é famosa por seu repertório de papéis provocativos, interpreta Romy, uma CEO de uma grande companhia em Nova York. Sua personagem parece ter uma vida perfeita: bem-sucedida, linda, inteligente, casada com o renomado dramaturgo Jacob (interpretado por Antonio Banderas) e mãe dedicada. Contudo, tudo muda quando o estagiário Samuel, interpretado por Harris Dickinson, entra em sua vida, fazendo com que Romy explore suas facetas mais ocultas. A relação entre ela e Samuel se desenvolve em uma dinâmica de poder ambígua e complexa, trazendo à tona questões de sexualidade e desejo reprimido.
Nicole Kidman: Uma Atuação Premiada em um Papel Desafiador
Por sua interpretação de Romy, Nicole Kidman recebeu a Coppa Volpi de Melhor Atuação Feminina no Festival de Veneza de 2023 e também foi indicada ao Globo de Ouro como Melhor Atriz em Drama. Embora tenha perdido o prêmio para Fernanda Torres, de Ainda Estou Aqui, a performance de Kidman continua a ser uma das mais comentadas do ano. A atriz, de 57 anos, destacou que foi a combinação de um roteiro único, escrito por uma mulher e com uma direção feminina, que a atraiu para o projeto. “O roteiro continha verdade e honestidade, era divertido, mas também perturbador, provocativo e emocionante. Fora isso, tinha sido escrito por uma mulher, que também dirigiria. Era bem a minha cara”, disse Kidman em entrevista à Elle.
O filme foi um grande desafio para a atriz, já que ela aparece em todas as cenas. As filmagens, realizadas durante o inverno de 2023, foram marcadas por um clima de intensidade e adrenalina. Kidman ressaltou o esforço físico envolvido nas filmagens e como o trabalho foi exaustivo, mas ao mesmo tempo empolgante. “Estou em todas as cenas. Foi difícil, mas também empolgante e satisfatório”, afirmou.
O Roteiro: Sexualidade e Complexidade Psicológica
Babygirl não é apenas mais um thriller psicológico, mas uma exploração visceral da sexualidade e da complexidade das relações humanas. O filme destaca a luta interna de Romy, que, apesar de ter alcançado tudo o que queria na vida, começa a se sentir inquieta e insatisfeita. A chegada de Samuel serve como um catalisador para a personagem, levando-a a questionar sua própria identidade e desejos. Ela se vê presa entre a perfeição que construiu ao longo dos anos e os desejos secretos que começam a emergir, desafiando suas próprias limitações.
A relação entre Romy e Samuel se torna o centro da trama, refletindo questões de poder, controle e consentimento. O filme aborda como o desejo pode ser complicado no ambiente de trabalho, onde as dinâmicas de gênero ainda são profundamente influenciadas pela sociedade patriarcal. De forma surpreendente, o filme não apenas explora a feminilidade e os desejos reprimidos das mulheres, mas também levanta questões sobre masculinidade, com o personagem de Harris Dickinson refletindo sobre o lugar do homem na sociedade moderna e suas próprias questões emocionais e sexuais.
Halina Reijn: Uma Direção Feminina para um Filme Provocador
Babygirl é dirigido por Halina Reijn, uma cineasta holandesa conhecida por seu trabalho em filmes de suspense e thrillers psicológicos. Reijn, que também é atriz, trouxe uma perspectiva única para o filme, influenciada por peças clássicas como Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, e os thrillers eróticos dos anos 1980 e 1990, como Atração Fatal e Proposta Indecente. No entanto, o que distingue Babygirl dos filmes que a inspiraram é sua abordagem feminina, algo que Reijn tem procurado explorar em sua carreira.
A diretora declarou em entrevistas que queria se distanciar das representações femininas tradicionais em filmes dirigidos por homens, que muitas vezes envolvem punições para as mulheres que exploram sua sexualidade. “Fui educada por diretores homens, mas queria dar uma resposta a todos esses filmes e criar algo novo”, explicou Reijn. A cineasta também enfatizou a importância de ter mulheres no comando dessas histórias. Espero que o filme tenha sucesso, porque acredito que é fundamental que histórias como essa sejam contadas por mulheres”, afirmou.
O Olhar Sobre a Sexualidade e os Relacionamentos no Mundo Atual
Babygirl não se limita a ser um filme sobre uma mulher poderosa que perde o controle; ele também oferece uma reflexão sobre as mudanças nas dinâmicas de poder, sexualidade e identidade. Além de discutir o desejo e os segredos pessoais de Romy, o filme também oferece uma visão sobre os homens modernos, como o personagem Samuel, que está em processo de entendimento sobre sua masculinidade. O filme se aprofunda nas questões de amor-próprio, positividade sexual e como os jovens da geração atual lidam com as expectativas em relação à sexualidade e à identidade de gênero.
O longa-metragem também explora o conceito de autossabotagem, em que a protagonista, apesar de ter alcançado tudo o que poderia desejar, acaba se perdendo em sua busca por algo que não sabe definir. “Há mudanças no equilíbrio de poder entre eles”, disse Kidman, destacando o dinamismo da relação entre Romy e Samuel, que desafia as normas tradicionais e expõe o jogo de sedução e controle.
O Impacto de “Babygirl” no Cinema Contemporâneo
Babygirl é um filme que se propõe a causar desconforto e a provocar reflexão no público. Através de sua direção arrojada, interpretação visceral e roteiro complexo, o filme propõe uma nova forma de olhar para questões de desejo, identidade e poder no mundo contemporâneo. Halina Reijn entrega um trabalho cinematográfico ousado que, sem dúvida, irá desafiar as convenções e gerar discussões importantes sobre sexualidade e relações de poder no cinema moderno.