Trombose: guia completo de prevenção, sintomas, diagnóstico e tratamento — o que você precisa saber no Dia Nacional de Combate à Trombose
Silenciosa, frequente e potencialmente fatal, a trombose é uma das condições vasculares que mais preocupam médicos e gestores de saúde. No Brasil, os números recentes chamam atenção: foram mais de 75 mil ocorrências em 2024 e, apenas no primeiro semestre de 2025, já se contabilizaram mais de 36 mil novos diagnósticos — uma média de cerca de 200 registros por dia. Neste 16 de setembro, data que marca o Dia Nacional de Combate e Prevenção à Trombose, é hora de transformar informação em ação: reconhecer sinais de risco, adotar hábitos protetores e entender como o sistema de saúde pode atuar de forma rápida e eficaz para evitar mortes e sequelas.
Este guia reúne, em linguagem direta, tudo o que você precisa saber sobre trombose: como ela se forma, quem corre mais risco, quais sintomas exigem atendimento imediato, quais exames confirmam o diagnóstico, quais são as opções de tratamento e quais condutas simples reduzem a probabilidade de um evento trombótico no dia a dia.
O que é trombose — e por que ela é perigosa
A trombose acontece quando um coágulo (trombo) se forma dentro de um vaso sanguíneo e impede parcial ou totalmente a passagem do sangue. Quando isso ocorre em uma veia profunda, principalmente nas pernas, chamamos de trombose venosa profunda (TVP). Se esse trombo se desprende e viaja até os pulmões, pode causar tromboembolismo pulmonar (TEP), uma urgência clínica com risco de morte. Há também eventos em artérias (trombose arterial), com repercussões importantes em órgãos vitais.
A gravidade da trombose decorre de dois fatores: a dificuldade de reconhecê-la nos estágios iniciais (muitas vezes sem sintomas evidentes) e a velocidade com que complicações podem surgir, especialmente no TEP. Por isso, informação e vigilância são essenciais.
Fatores de risco: quem precisa redobrar a atenção
A trombose pode acometer diferentes faixas etárias e perfis. Ainda assim, alguns contextos aumentam sensivelmente a probabilidade de formação de coágulos:
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Imobilidade prolongada: viagens longas (avião, ônibus, carro), permanência sentada por horas, repouso no leito.
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Cirurgias e internações: sobretudo procedimentos ortopédicos, oncológicos e abdominais, além de períodos de recuperação pós-operatória.
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Uso de anticoncepcionais e terapia hormonal: alguns hormônios elevam o risco de trombose, exigindo avaliação médica individualizada.
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Gestação e puerpério: as mudanças fisiológicas da gravidez favorecem a coagulação; o risco permanece nas semanas após o parto.
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Obesidade e sedentarismo: aumentam inflamação sistêmica e estase venosa.
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Tabagismo: provoca alterações vasculares e favorece formação de trombos.
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Idade avançada: o risco de trombose cresce com o envelhecimento.
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Histórico pessoal ou familiar: trombofilias hereditárias e antecedente de trombose elevam a chance de recorrência.
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Câncer e quimioterapia: o estado pró-coagulante é mais comum em neoplasias.
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Desidratação, traumas e infecções: podem contribuir para a hipercoagulabilidade.
Reconhecer esses fatores é o primeiro passo para um plano de prevenção efetivo de trombose.
Sinais e sintomas: quando o corpo dá o alerta
Nem toda trombose dói. Porém, alguns sinais clássicos devem acender a luz vermelha, sobretudo nas pernas:
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Inchaço súbito em uma das pernas (mais raro em ambas).
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Dor tipo peso ou cãibra, que piora ao caminhar ou palpar.
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Aumento de temperatura local e vermelhidão na área afetada.
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Endurecimento de trajeto venoso.
Quando há trombose com embolia pulmonar, o quadro pode incluir:
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Falta de ar súbita, respiração acelerada.
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Dor no peito que piora ao inspirar.
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Palpitações e tontura.
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Tosse, por vezes com sangue.
Diante desses sinais, procurar atendimento imediatamente faz diferença entre uma trombose controlada e uma complicação potencialmente fatal.
Diagnóstico: como a trombose é confirmada
A confirmação de trombose combina avaliação clínica e exames:
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Ultrassonografia com doppler venoso: método de eleição para TVP; visualiza o trombo e avalia o fluxo.
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D-dímero (exame de sangue): útil para afastar trombose em pacientes de baixo risco; valores baixos tornam o evento improvável.
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Angiotomografia de tórax: padrão para investigar TEP em casos compatíveis.
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Exames complementares: ecocardiograma (quando indicado), ressonância e outros, conforme o quadro.
Quanto mais cedo a trombose é identificada, maior a chance de um tratamento simples e menos invasivo.
Tratamento: do anticoagulante à reabilitação
A base do tratamento da trombose venosa é a anticoagulação, que “afina” o sangue para impedir crescimento do trombo e reduzir o risco de embolia. Entre as possibilidades, estão heparinas e anticoagulantes orais de uso contínuo por semanas ou meses, conforme orientação médica. Em situações selecionadas — como trombos extensos, dor refratária ou ameaça a órgãos — podem ser considerados trombólise (dissolução do coágulo) ou trombectomia (remoção mecânica). Em casos muito específicos, usa-se filtro de veia cava.
Medidas adjuvantes incluem:
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Meias de compressão graduada: ajudam a reduzir edema e prevenir síndrome pós-trombótica após um evento de trombose.
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Deambulação precoce: movimentar-se com segurança, sob orientação, melhora o retorno venoso.
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Controle de fatores de risco: cessar tabagismo, manejo do peso, hidratação adequada.
A duração do tratamento é individualizada. Suspender anticoagulantes por conta própria é perigoso e pode culminar em nova trombose.
Prevenção: hábitos simples que salvam vidas
A boa notícia é que muito do risco de trombose pode ser reduzido com rotinas acessíveis:
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Mover-se a cada 60–90 minutos em viagens e no trabalho. Caminhe, flexione tornozelos, faça rotações de pés.
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Hidratar-se ao longo do dia, sobretudo em ambientes com ar-condicionado ou clima seco.
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Evitar roupas excessivamente apertadas por longos períodos, que dificultem o retorno venoso.
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Não fumar e buscar apoio para cessação do tabagismo.
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Manter atividade física regular (aeróbica + fortalecimento), que melhora a bomba muscular da panturrilha.
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Usar meias de compressão em viagens longas ou quando indicado por médico após avaliação de risco de trombose.
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Revisar anticoncepção com ginecologista quando houver fatores adicionais de risco.
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Seguir protocolos pós-operatórios: deambulação precoce, profilaxia farmacológica e acompanhamento.
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Controlar doenças crônicas (hipertensão, diabetes, dislipidemia) e o peso corporal.
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Conhecer seus sinais de alerta e buscar assistência ao menor indício de trombose.
Prevenção por cenário: o que muda em cada situação
Viagens longas
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Planeje pausas para caminhar; no avião, levante-se quando possível.
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Faça exercícios de tornozelo sentado (flexão/extensão, círculos).
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Hidrate-se e evite excesso de álcool.
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Meias de compressão podem ser úteis em pessoas com risco aumentado de trombose (avalie com médico).
Pós-cirurgia e hospitalização
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Siga a profilaxia farmacológica quando prescrita.
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Participe ativamente da fisioterapia e da deambulação orientada.
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Não suspenda por conta própria medicações que previnem trombose.
Gestação e puerpério
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Faça pré-natal regular.
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Discuta sinais de alerta e plano de ação com a equipe.
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Em riscos específicos, o obstetra pode indicar medidas adicionais contra trombose.
Uso de anticoncepcionais
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Avalie histórico pessoal/familiar de trombose e outros fatores de risco.
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Considere alternativas e a menor dose eficaz, guiada por especialista.
Complicações e sequelas: o que pode acontecer após uma trombose
Mesmo com tratamento, parte dos pacientes desenvolve síndrome pós-trombótica, caracterizada por dor crônica, edema e sensação de peso na perna afetada. Em eventos pulmonares, pode ocorrer hipertensão pulmonar tromboembólica crônica. O acompanhamento multiprofissional (angiologia/ cirurgia vascular, fisioterapia, pneumologia, quando necessário) é determinante para reduzir a chance de sequelas após trombose.
Mitos e verdades sobre trombose
“Só idosos têm trombose.”
Mito. Embora a idade aumente o risco, trombose pode ocorrer em adultos jovens, especialmente quando somam-se fatores como imobilidade, hormônios e tabagismo.
“Se a perna não dói, não é trombose.”
Mito. Trombose pode ser assintomática ou discreta; inchaço e calor local exigem atenção.
“Aspirina previne todos os casos.”
Mito. A prevenção efetiva de trombose segue protocolos específicos; o uso de anticoagulantes e antiagregantes é médico-dependente.
“Depois de uma trombose, nunca mais posso viajar.”
Mito. Com acompanhamento, controle de fatores de risco e medidas preventivas, é possível voltar a viajar com segurança.
“Bebidas alcoólicas afinam o sangue.”
Mito. Álcool não é estratégia de prevenção; o abuso aumenta riscos e pode interagir com anticoagulantes usados na trombose.
Checklist de 1 minuto para hoje (16 de setembro)
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Vou me movimentar a cada 60–90 minutos.
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Vou beber água em intervalos regulares.
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Vou revisar minhas medicações e hábitos com meu médico se eu tiver fatores de risco para trombose.
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Vou conversar com família e amigos sobre os sinais de alerta.
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Se eu tiver viagem longa, vou planejar pausas e considerar meias de compressão.
Pequenas atitudes, repetidas todos os dias, derrubam o risco de trombose no médio e no longo prazo.
Perguntas e respostas rápidas
Quais são os primeiros exames quando há suspeita de trombose?
Em geral, o atendimento avalia sinais clínicos e solicita ultrassom doppler venoso para TVP. Em suspeita de TEP, a angiotomografia de tórax costuma ser indicada.
Toda dor na panturrilha é trombose?
Não. Lesões musculares e tendíneas também doem. A diferença é que, na trombose, costumam coexistir inchaço, calor e piora à palpação. Persistindo a dúvida, procure avaliação.
Quanto tempo dura o tratamento?
Varia. Muitos casos de trombose exigem anticoagulação por 3 a 6 meses; alguns, por mais tempo. A decisão é do médico, conforme risco de recorrência e sangramento.
Meias de compressão substituem remédio?
Não. As meias auxiliam sintomas e prevenção de sequelas; o tratamento da trombose é farmacológico, e eventuais procedimentos são definidos caso a caso.
Posso prevenir trombose só com exercícios?
Exercício ajuda muito, mas prevenção efetiva de trombose é multifatorial: hidratação, cessação do tabagismo, controle de peso, movimentação periódica e, em alguns cenários, profilaxia medicamentosa.
Por que falar de trombose agora
O Dia Nacional de Combate e Prevenção à Trombose, em 16 de setembro, é um convite à conscientização. Com milhares de diagnósticos anuais e impacto direto em mortalidade e qualidade de vida, a trombose é um problema de saúde pública que pode ser enfrentado com informação, organização dos serviços e participação ativa da população. Reconhecer sintomas, procurar ajuda cedo e incorporar hábitos protetores é o caminho mais curto entre um risco conhecido e uma vida sem sustos desnecessários.
Aviso importante: este conteúdo tem caráter informativo e não substitui consulta, diagnóstico ou tratamento médico. Em caso de sintomas compatíveis com trombose, procure atendimento imediatamente.