Alcione celebra 50 anos de carreira com exposição inédita em São Luís: uma jornada pela história da Marrom
Alcione — A voz que não deixou o samba morrer
Em 2025, o Brasil celebra cinco décadas de uma das vozes mais marcantes da sua música popular: Alcione. Conhecida como a Marrom, a cantora completa 50 anos do lançamento de seu primeiro álbum, A Voz do Samba, obra que não só projetou sua carreira nacionalmente como também eternizou o clássico “Não Deixe o Samba Morrer”. A importância de Alcione para a música brasileira transcende o tempo: ela é a síntese da força feminina no samba, a expressão do povo e, sobretudo, uma embaixadora da cultura popular.
A efeméride é marcada com uma homenagem rara em vida: a exposição Com Amor, Alcione, no Centro Cultural Vale Maranhão, em São Luís, sua cidade natal. A mostra apresenta um mergulho afetivo e histórico em sua trajetória, revelando não apenas sua vida pública, mas também sua essência enquanto símbolo de resistência, estilo e emoção.
Um tributo vivo à cultura popular brasileira
A exposição Com Amor, Alcione é mais que uma simples retrospectiva: trata-se de um agradecimento vivo a uma artista que moldou o imaginário musical de gerações. Sob a curadoria de Gabriel Gutierrez, Deyla Rabelo e Luciana Gondim, o projeto oferece ao público a oportunidade de adentrar o universo íntimo da cantora.
A exposição está estruturada como um álbum de fotografias que revela diferentes fases da vida de Alcione: da infância em São Luís, passando pela mudança ao Rio de Janeiro, até as viagens internacionais, os encontros com fãs e a amizade com outros músicos consagrados. É um olhar sensível sobre uma artista que vive o que canta.
Alcione e o afeto como linguagem musical
Um dos pontos centrais abordados pelos curadores é o conceito de “afeto” como base da obra de Alcione. Em cada música, figurino e gesto da cantora, há uma entrega emocional autêntica. Seu repertório — recheado de canções românticas, sambas de raiz e declarações de amor ao Brasil — é uma declaração contínua de afeto ao público. Ela canta para o povo e pelo povo.
Gabriel Gutierrez observa que Alcione “montou a carreira dela como uma grande dedicatória de emoções”. De fato, a artista escolheu não apenas cantar, mas representar os sonhos e anseios de uma população muitas vezes negligenciada, usando sua arte como um meio de empoderamento coletivo. O samba de Alcione é resistência, é poesia, é afeto popular em sua forma mais pura.
A estética como linguagem de poder
Outro ponto fundamental na construção do mito Alcione é sua estética inconfundível. A Marrom sempre se destacou por seus figurinos exuberantes, caftãs bordados, mantos brilhantes, unhas impecáveis, cabelos volumosos e joias dignas de realeza. E nada disso é por acaso.
Na exposição, estão expostas peças icônicas que contam uma parte importante da história da cantora: desde os looks usados no Rock in Rio até o figurino do desfile da Mangueira em 2024, escola de samba do coração da artista. Uma das peças mais simbólicas é o look assinado por Amir Slama, ainda nos tempos da Rosa Chá, feito com seda e paetês dourados, capa de um de seus discos.
Alcione sempre entendeu que a imagem também comunica. Ao se apresentar com brilho e imponência, ela devolve ao povo aquilo que lhe é negado: o direito ao glamour, à arte, à dignidade. Tudo nela é simbólico — do ouro nos detalhes ao poder na voz.
A artista que moldou a indústria fonográfica brasileira
Além do talento inquestionável, Alcione tem papel determinante na história da indústria fonográfica nacional. Lançar um disco nos anos 70 sendo mulher, negra e nordestina era um desafio monumental. O mercado da música era dominado por homens, e as gravadoras relutavam em apostar em vozes femininas do samba.
No entanto, impulsionada pelo sucesso de Clara Nunes, as gravadoras abriram espaço — e Alcione o ocupou com força, competência e carisma. Desde então, são mais de 40 álbuns lançados, prêmios nacionais e internacionais, turnês pelo mundo e uma base de fãs que atravessa gerações.
A artista ajudou a redefinir o papel das mulheres na música brasileira e abriu caminhos para outras cantoras que vieram depois. Com generosidade, sempre acolheu o novo, estabelecendo pontes entre gerações de músicos.
Alcione como símbolo de identidade e orgulho
Ser Alcione é mais do que cantar. É representar uma identidade. Sua trajetória inspira não apenas pela música, mas por sua coerência, generosidade e fidelidade às raízes. Ela nunca se desvinculou do Maranhão — sua cultura, suas tradições e seu povo sempre estiveram presentes em sua obra.
Com uma carreira construída com base em autenticidade, Alcione se tornou um espelho para quem busca dignidade, reconhecimento e pertencimento. A exposição Com Amor, Alcione vem como um reconhecimento dessa trajetória — não apenas como um marco de 50 anos de carreira, mas como uma homenagem a uma das maiores intérpretes do país em vida.
Alcione em 2025: uma celebração de legado e presença
Chegar aos 50 anos de carreira ativa com relevância, agenda cheia e sendo homenageada em sua cidade natal é um feito para poucos. Alcione não apenas sobreviveu à indústria fonográfica — ela a transformou. Hoje, sua música continua presente em novelas, playlists, festas populares e, claro, nas rodas de samba pelo país.
A exposição em São Luís é o ponto alto de uma trajetória que ainda promete mais capítulos. Com voz potente, presença marcante e brilho inabalável, Alcione segue sendo referência. O Brasil reconhece, aplaude e se emociona com sua história.